Cuidados paliativos para todas e todos
Aula do curso de gerontologia aborda procedimentos que podem aliviar dor e promover integração de aspectos sociais, psicológicos e espirituais
A sexta aula do Curso de Extensão em Gerontologia abordou o tema Cuidados Paliativos. A aula, que aconteceu no dia 14 de junho, foi ministrada pelo professor Ramon Moraes Penha, que possui mestrado e doutorado na área de Saúde do Adulto. No encontro, foram abordados assuntos como a história dos cuidados paliativos, conceitos importantes, ferramentas de avaliação e, por fim, o tabu ainda existente em relação ao assunto.
O encontro foi iniciado com a seguinte afirmação: todos vamos precisar de cuidados paliativos um dia. “Embora todos nós um dia precisaremos, no nosso imaginário esse assunto não é bem elaborado. Esse ainda é um termo pouco discutido”. O professor afirma que a definição do que é cuidado paliativo está em constante atualização. Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o termo como cuidados holísticos ofertados a pessoas de todas as idades que se encontram em sofrimento relacionado à sua saúde. Ainda de acordo com a OMS, o objetivo principal do cuidado paliativo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, da família e de seus cuidadores.
Um estudo de 2018 divulgado pela American Cancer Society revela que ao ouvir falar em cuidados paliativos, 82% dos pacientes afirmam sentir medo, 76% ansiedade, 72% estresse e 58% depressão. Dos pacientes que participaram da pesquisa, apenas 9% afirmaram se sentir esperançosos e 13% seguros. De acordo com o professor, sentimentos como esses são comuns quando pacientes e familiares se deparam com cuidados paliativos.
O termo cuidado paliativo remonta ao século IV, tendo origem do latim pallium, nome dado ao manto que protegia cavaleiros medievais. Segundo o professor, os hospices, locais que abrigavam enfermos na época, também influenciaram o surgimento dos cuidados paliativos. Entretanto, o conceito se tornou oficial a partir de 1960 com o trabalho da enfermeira, médica e assistente de saúde Cicely Saunders. A profissional, que dedicou a vida ao trabalho de aliviar o sofrimento de pacientes terminais, foi responsável por estabelecer diversos construtos filosóficos por trás do cuidado paliativo, assim como outros conceitos importantes para a prática.
Entre os conceitos determinados por Saunders, estão o da Dor Total, um dos pilares dos cuidados paliativos. O termo se aplica ao sofrimento que vai além do físico. “Muitas vezes pessoas em terminalidade não conseguem ficar em paz, podem sofrer em diversas esferas com medo do que vai acontecer quando morrerem, medo de morrer e não ter com quem deixar seus filhos e descendentes”, explica o professor. Ainda de acordo com ele, para lidar com a Dor Total é necessário o Cuidado Total, que abrange aspectos multidimensionais da dor, como o sofrimento físico, mental, social e espiritual.
O estudo ‘End of life care: what do cancer patients want?’, publicado em 2014, revela as principais vontades de pacientes terminais: ter a capacidade de se manter autônomo até o fim, poder tomar decisões sobre seu cuidado, sentir conforto, diminuir sobrecarga da família, morrer no lugar que escolheu, ter assuntos pessoais em ordem, ter suas crenças e valores respeitados no momento da partida, além de ter senso de conclusão da vida e de que deixou um legado. “Nesse processo, o desafio é encarar a morte como processo natural. Os cuidados paliativos não apressam nem adiam a morte, mas buscam aliviar dor e sintomas angustiantes, promover integração de aspectos sociais, psicológicos e espirituais e disponibilizar rede de apoio”, afirma o professor.
Os cuidados paliativos são elegíveis para pacientes que não respondem aos tratamentos clínicos e moduladores de doenças. “Um dos recursos que utilizamos para determinar se um paciente deve ser encaminhado para os cuidados paliativos é fazer uma pergunta para a equipe clínica: “você ficaria surpreso se este paciente morresse por essa doença antes de um ano?”. É o que chamamos de Surprise question”.
Algumas das ferramentas utilizadas para auxiliar a equipe médica a indicar a necessidade de cuidados paliativos são a NECPAL- BR, a escala Palliative Prognostic Index, a Palliative Performance Scale (PPS), o índice de Karno, a Escala de avaliação de sintomas de edmonton, a Palliative Prognostic Score (PaP) e a avaliação isolada dos sintomas do paciente. “Quando temos clareza da limitação da vida, entendemos a potencialidade dos cuidados paliativos. Todo esforço gira em torno de tornar a pessoa apta a tomar suas decisões e a estar bem no momento da sua passagem”.
SAIBA MAIS:
Livro ‘Diyng Well’ – Cicely Saunders
Livro ‘Velai Comigo – Inspiração para uma vida em Cuidados Paliativos’ – Cicely Saunders
Texto: Alíria Aristides