A educação intergeracional como caminho de humanidade
Proposta educativa compartilha saberes entre as diferentes gerações e contribui para o desenvolvimento da coletividade
No dia 28 de junho, aconteceu a oitava aula do curso de extensão em Gerontologia, com o tema da Intergeracionalidade. A professora e pós-doutora em Educação pela Universidade Estadual do Pará (UEPA) Neila Barbosa Osório, iniciou o encontro com a exibição do documentário comemorativo dos 15 anos do programa Universidade de Maturidade (UMA), da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
A UMA é uma tecnologia social educacional idealizada por Neila, e que funciona empregando o conceito da educação intergeracional em suas práticas, visando o bem-estar da pessoa idosa e a construção de uma coletividade. Nesse conceito, busca-se estabelecer diálogos de igual para igual, onde a relação de poder não deve existir e todos são vistos como educandos e educadores. Para alcançar esse objetivo, a UMA promove projetos e ações para oportunizar que diversas gerações, desde crianças até idosos, conheçam diferentes valores e aprendam uns com os outros. Um deles é o Era Uma Vez, projeto onde idosos acadêmicos da UMA contam suas histórias de vida de forma lúdica para crianças em colégios da educação infantil. Dentro da UFT, alunos do curso de teatro apresentam peças teatrais em parceria com os idosos, com elencos compostos por metade jovens e metade velhos. Outro projeto é o Ecoponto na Escola, que leva as pessoas idosas para ensinarem reciclagem e coleta seletiva em colégios infantis.
Durante a aula, Neila problematizou o fato dos idosos, e principalmente idosas, passarem a maior parte da vida somente cuidando de outras pessoas. Para muitos que fazem parte da geração baby boomer, aqueles nascidos entre 1946 e 1964 no período marcado pelo pós-guerra, não foi possível terminar a educação básica, muito menos entrar numa faculdade, o objetivo era trabalhar para sobreviver e cuidar da família. Com a educação intergeracional, as universidades garantem a participação social dessas pessoas, oferecem uma nova chance de aprendizado e de troca de experiências, não somente aos mais velhos, mas também aos adultos, jovens e crianças. “O velho, quando vai para a universidade e descobre o seu projeto de vida, procura ser bom para si mesmo e não mais somente para os outros”, explica Neila.
A diferença de compreensões de mundo, de valores culturais e do próprio acesso a direitos entre as gerações, fez com que os mais velhos se afastassem dos mais novos. Neila avalia que, para os idosos, promover o diálogo entre diversas idades traz uma lista de benefícios, alguns deles são o aumento da autoestima, a melhora da memória, o aumento do sentimento de valor pessoal e o reconhecimento do seu valor na comunidade. “Não vou ferir os meus valores se conhecer os dos jovens”, ressalta Neila. “Estamos vivendo numa sociedade totalmente fragmentada, e as nossas gerações precisam uma das outras”.
Para a professora, novas estratégias podem ser criadas para tornar a diversidade um fator positivo, de modo a transformar mentes presas à bolhas individuais em consciências coletivas, fundamentais para o senso de humanidade. E a coletividade deve se estender às pessoas de todas as gerações, classes sociais, sexo, cultura, religiões e etnias. O fomento ao desenvolvimento da comunidade por meio da troca entre diferentes idades têm alcançado cada vez mais sucesso na Universidade da Maturidade. “A UMA começou numa sala com 56 idosos e hoje atendemos mais de 5 mil velhos em diversas cidades do Tocantins”.
Para saber mais:
Velhices: Um novo desafio para a Universidade contemporânea. O caso da UMA/UFT
Apresentação disponibilizada por Leila sobre os Conflitos das Gerações e quais são essas gerações
Texto: Alicce Rodrigues