Polifarmácia consciente
Envelhecer gera modificações naturais no organismo e por vezes é preciso medicamentos, mas é necessário consciência na prescrição de fármacos
“O processo do envelhecimento traz alterações em todos os sistemas e aumenta as chances de doenças”, essas foram as palavras de Camila Guimarães Polisel, docente do curso de farmácia da UFMS e doutora em toxicologia, pela Universidade de São Paulo A professora ministrou a aula do dia 07 de junho do curso de extensão em gerontologia. O encontro tratou das particularidades da farmacoterapia no idoso.
Na abordagem da professora, ficou claro que não é regra que todos os idosos precisam de muitos medicamentos, mas esse é o grupo que mais os consome. 90% das pessoas idosas utilizam ao menos um fármaco. São duas as formas principais de tratar doenças: tratamento não medicamentoso e o medicamentoso. O primeiro envolve mudanças de hábitos, como prática de atividade física ou modificação alimentar. No caso dos idosos é melhor priorizar o tratamento não farmacológico, para adiar o uso dos fármacos.
Quando se trata de prescrição para a pessoa idosa, é preciso retirar os medicamentos desnecessários, incentivar o tratamento não farmacológico, caso seja possível, ajustar doses se necessário e escolher os medicamentos mais seguros.
Camila apontou que a polifarmácia só é ruim se feita de forma inadequada. Exemplo disso é a situação chamada de cascata medicamentosa. Essa situação ocorre quando um fármaco é receitado e este gera efeitos no paciente, mas o médico considera esses efeitos como o sintoma de uma nova doença e não uma reação ao medicamento receitado. Por isso uma nova prescrição é feita e o ciclo continua.
A pesquisadora também abordou as alterações nos fármacos que o próprio processo natural de envelhecimento pode causar. A farmacocinética, ou seja, a absorção, distribuição, metabolização e excreção dos medicamentos pode ser comprometida. A farmacodinâmica, a sensibilidade do fármaco, também pode ser alterada. Ela explicou que os idosos possuem um fluxo sanguíneo cerebral menor e por isso são mais sensíveis aos efeitos de antidepressivos. Com o envelhecer, a capacidade funcional é alterada, dificuldades auditivas e visuais surgem e isso compromete o uso do medicamento. A capacidade cognitiva também é afetada, o que leva a dificuldades para entender as próprias orientações médicas.
Ao tratar dos problemas mais comuns na farmacoterapia em pessoas idosas, é importante citar a efetividade, já que o próprio envelhecer e doenças alteram os sistemas da pessoa. Outro problema é a segurança, pois podem haver interações medicamentosas e reações adversas. Por fim, há também a questão da adesão. Administrar múltiplos medicamentos é difícil e isso pode fazer o idoso não aderir ao tratamento.
A farmacoterapia em pessoas idosas não se trata apenas de prescrever e ingerir/aplicar algo. Há diversos fatores por trás, bem ressaltou a professora. Exemplo que evidencia essa complexidade são os desafios na administração do fármaco. As embalagens difíceis de serem abertas, rótulos pequenos, comprimidos grandes e difíceis de serem ingeridos, quantidade de água para ingerir o medicamento, vias de administração que precisam de assistência (uma pomada nas costas, por exemplo), são todos fatores que devem ser levados em consideração quando se trata da pessoa idosa.
Saiba mais:
Nem todos os medicamentos são adequados para a pessoa idosa. Por isso um documento foi redigido para servir de auxílio: Consenso brasileiro de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos
Boletins do Instituto de para práticas seguras no uso de medicamentos.
Artigos: utilização de medicamentos potencialmente inapropriados por idosos hospitalizados
Frequência de polifarmácia em idosos assistidos por residentes farmacêuticos
Texto: Raquel Alves